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Dia nacional de luta pelos direitos das pessoas com doenças falciformes alerta para diagnóstico precoce

No dia 27 de outubro é celebrado o Dia Nacional de Luta pelos Direitos das Pessoas com Doenças Falciformes. A doença, genética e hereditária, é causada por um defeito na estrutura da Hemoglobina. Estima-se que, mundialmente, cerca de 300 mil crianças nasçam por ano com doença falciforme – a maioria em países de média e de baixa renda.

Uma das enfermidades mais prevalentes mundialmente, a doença falciforme (que compreende sobretudo a anemia falciforme e a doença da hemoglobina C) é considerada um grave problema de saúde pública.

Diagnóstico precoce

O teste do pezinho, disponível no SUS, é fundamental para o diagnóstico precoce. Ele permite, além da identificação da anemia falciforme, identificar o hipotiroidísmo congênito, fenilcetonúria, anemia falciforme, fibrose cística e outras hemoglobinopatias.

Segundo Carmela Maggiuzzo Grindler, coordenadora estadual do Programa Nacional de Triagem Neonatal de São Paulo, as doenças detectadas são crônicas, genéticas e incuráveis. “Quando identificadas e tratadas precocemente, aumentamos a chance de sobrevida normal, de integração social e de preservação da capacidade cognitiva e da qualidade da vida dos pacientes”.

Tratamento

A geneticista do Centro de Biologia Molecular e Engenharia Genética da Unicamp Mônica Barbosa de Melo, tem se dedicado em sua pesquisa com complicações associadas à doença falciforme. No caso da anemia falciforme, a causa é uma única mutação genética.

Essa alteração faz com que haja uma modificação no formato da hemácia. De bicôncava, ela pode assumir a forma de foice que, ao longo de eventos de oxigenação/desoxigenação, acaba permanecendo nesse formato alongado, obstruindo os capilares. Há registros de uma grande variabilidade fenotípica, que se reflete nas várias complicações apresentadas pelos pacientes, que variam tanto em número como em gravidade.

“Buscamos identificar marcadores genéticos que apontem, por exemplo, por que um paciente apresenta certas complicações e outros não, como o acidente vascular cerebral (AVC), a retinopatia, a úlcera de perna, assim como complicações na gravidez. Tentamos entender os moduladores genéticos da doença falciforme”, explica Mônica Barbosa de Melo.

Placenta

A doença falciforme também pode seguir com complicações na gravidez. Por isso, a pesquisadora comentou que o seu grupo de pesquisa desenvolve um projeto que estuda as grávidas falciformes, em cooperação com o Hospital da Mulher. Participam as obstetras Maria Laura Costa Nascimento, Mary Angela Parpinelli e Fernanda Surita.

“Normalmente, as mulheres com doença falciforme apresentam maior risco para complicações na gravidez, como piora da anemia, crises álgicas, síndrome torácica aguda, suscetibilidade a infecções, restrição de crescimento fetal e pré-eclâmpsia, com riscos para a mãe e para o feto”, ressalta Mônica.

A pós-graduanda Letícia Carvalho, que cursa o doutorado sob orientação de Mônica e coorientação de Maria Laura Costa, avalia a placenta das pacientes com doença falciforme neste projeto desenvolvido no Caism. No seu mestrado, a aluna analisou o perfil de expressão gênica da via inflamatória e encontrou alterações de expressão de alguns genes.

A cientista informou que, para tentar identificar genes que possam estar diferencialmente expressos nas placentas dessas pacientes, amostras de vilosidades coletadas a partir da face materna da placenta são obtidas logo após o parto e posteriormente submetidas à extração de material genético.

Metodologia

Após a extração de RNA, ela o leva para sequenciamento no Laboratório Central de Tecnologias de Alto Desempenho. O local retorna os resultados gerados, que são analisados por meio de ferramentas de bioinformática. “Já encontramos alguns genes diferencialmente expressos ligados à via do estresse oxidativo”, revela Letícia Carvalho.

Os resultados obtidos por sequenciamento de RNA poderão fornecer importantes dados para uma melhor compreensão de como a doença afeta a fisiologia da placenta e aumenta os riscos de complicações materna e fetal, ampliando as possibilidades para estudos futuros.

Além do projeto com placentas, há também outras iniciativas em andamento que estudam retinopatia, úlcera de perna e AVC, todos em pacientes falciformes. O projeto de úlcera de perna, por exemplo, busca identificar variantes genéticas que possam ser utilizadas, futuramente, como marcadores para a identificação de pacientes com maior predisposição a desenvolver a complicação.