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Estudo com metodologia pioneira mostra efetividade de medidas preventivas contra coronavírus

Um estudo feito por amostragem no começo deste mês revela que Ribeirão Preto tem uma baixa prevalência do novo coronavírus (SARS-CoV-2), responsável pela doença COVID-19, circulando pela cidade. Somente 1,21% das pessoas testadas estavam infectadas pelo vírus – ou apenas 8.305 pessoas da população, segundo o relatório apresentado em 6 de maio pelos pesquisadores do Hospital das Clínicas da Faculdade de Medicina de Ribeirão Preto (HC-FMRP) da Universidade de São Paulo (USP) e da Secretaria Municipal da Saúde.

Pioneira no Brasil – as cidades de São Paulo e Rio de Janeiro ainda não finalizaram os testes –, a metodologia empregada é parecida com a usada em pesquisa de opinião pública e inédita para essa finalidade, segundo o professor Fernando Bellissimo Rodrigues, da FMRP e coordenador do levantamento. A amostra, com indivíduos distribuídos por todas as regiões da cidade, foi sorteada entre pessoas de ambos os sexos, de todas as faixas etárias e níveis de escolaridade e socioeconômicos.

No total, foram testadas 709 pessoas. As amostras de sangue foram processadas para extração do soro, que foi submetido a teste sorológico do tipo rápido para detecção de anticorpos de qualquer classe contra o SARS-CoV-2. Também foi colhido material do nariz submetido à extração de ácido nucleico para detecção do RNA do vírus SARS-CoV-2 por meio de reação em cadeia de polimerase (PCR).

Ainda de acordo com Rodrigues, os resultados não indicam concentração específica ou aglomeração particular em nenhum dos distritos. “A prevalência encontrada foi inferior ao que a gente esperava”, salienta o docente ao Jornal da USP.

Prevenção

A resposta para o baixo nível de casos, acredita o professor, sejam as medidas preventivas empregadas até agora tanto pela prefeitura quanto pelas instituições de saúde. “Somadas ao distanciamento social, a promoção da higiene das mãos com álcool, o uso de máscaras, a etiqueta da tosse, além das atividades da vigilância epidemiológica empregadas pelo município e pelos hospitais provavelmente também influenciaram nesses resultados”, diz.

Se por um lado Rodrigues considera o resultado bom, pois não sobrecarrega o sistema de saúde, por outro se diz preocupado, uma vez que é grande o número de pessoas suscetíveis ao vírus. “Se relaxarmos nas medidas preventivas, existe uma possibilidade grande de a doença circular livremente, como tem ocorrido na capital, por exemplo, vindo a sobrecarregar o sistema de saúde e causar muitas mortes”, alerta.

As medidas de distanciamento social, segundo o professor, não podem ser perpetuadas indefinidamente. “Mas a prefeitura deve se sentar com setores da sociedade, incluindo saúde, serviço, comércio e indústria, para tentar encontrar uma saída intermediária para esse impasse”, completa.

Rodrigues lembra que mesmo na volta ao “normal”, não se lidará com a normalidade anterior. “Agora, temos que ter mais rigor ainda com as medidas de higiene, com mais atenção aos mecanismos de transmissão desse vírus para que a doença não exploda como em várias partes do Brasil e do mundo”, afirma.

Evolução

Em quatro ou cinco semanas, os pesquisadores vão repetir os testes nas mesmas pessoas que participaram da primeira coleta. “Assim, podemos ter uma ideia evolutiva da contaminação na cidade. Hoje, temos uma fotografia pontual. Se tivermos uma fotografia daqui a seis semanas, podemos traçar uma reta que liga os dois pontos e ver se ela é ascendente, descendente ou estável”, enfatiza o professor. Essa segunda avaliação, informa Rodrigues, permitirá projetar a evolução da doença.

A importância dessas avaliações como estratégias para controle da doença é compartilhada pelo professor Domingos Alves, do Laboratório de Inteligência em Saúde (LIS) da FMRP, que acompanha a evolução da pandemia no Brasil, com dados por estados e cidades. Alves também concorda que a prevalência observada hoje em Ribeirão Preto é um reflexo das medidas preventivas adotadas até o momento.

Domingos Alves ressalta a importância dessas pesquisas epidemiológicas em cenário de muitos casos subnotificados. “O que é mostrado nos boletins divulgados diariamente, e que acompanham critérios adotados no Brasil inteiro, são somente os casos confirmados após testagem e são os casos que vão para internação”, ressalta ao Jornal da USP.