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Fumantes param de fumar depois de três meses com ajuda de programa do Incor

As pessoas que procuram a Dra. Jacqueline Scholz, coordenadora da área de Cardiologia do Programa de Tratamento do Tabagismo do InCor, chegam conscientes de que devem parar de fumar. Já tiveram infarto ou estão com problemas pulmonares graves devido ao uso continuado do tabaco e não têm outra opção de recuperação sem largar o cigarro, mas não conseguem. “O conflito entre a necessidade de interromper o consumo e o desejo de acender o próximo cigarro é absoluto, diz a cardiologista, que vem tratando de pacientes nessa condição extrema com taxas de sucesso de 60-70%.  Isso significa que de cada 10 pacientes atendidos pelo programa, 6 a 7 deixam de fumar depois do tratamento.

Quanto tempo demora o processo?

Os pacientes conseguem deixar o cigarro, em média, no prazo de três meses, embora o tratamento em si possa demorar mais tempo, de seis meses até um ano, dependendo do comprometimento de cada um com o tabagismo, comenta a especialista. Os casos mais difíceis são aqueles em que os neurotransmissores foram modificados. “O cérebro do fumante exposto à ação da nicotina por muito tempo sofre alteração no nível dos neurotransmissores e eles não voltam mais ao seu padrão original de operação. Isso quer dizer que após a interrupção do tabagismo esses fumantes continuam dependentes, como se estivessem com buracos no cérebro”.  É este o caso de quem começou a fumar com 14, 15 anos e chega para o tratamento com mais de 40, 50 anos.

A abordagem do programa é sempre farmacológica e inclui medicamentos específicos contra a dependência da nicotina e para controle de humor – estes últimos, geralmente usados para evitar recaídas. São substâncias que atuam sobre os circuitos neurotransmissores dopaminérgicos ou serotoninérgicos, atenuando as sensações de irritabilidade ou ansiedade. O que determina a escolha do tratamento é o sintoma, explica Scholz, esclarecendo que nas duas últimas décadas houve uma evolução grande nas opções farmacológicas de tratamento da dependência do cigarro.

Abordagem comportamental x farmacológica

A especialista adota a abordagem comportamental durante a consulta médica, mas não antes de pelo menos sete dias do início da medicação para o tratamento de fumantes dependentes. Baseada em evidências científicas e, também, na sua experiência, ela afirma que as questões subjetivas da dependência, como o uso do cigarro para reduzir a ansiedade ou melhorar a concentração, ou como calmante, não se resolvem com terapia comportamental.  “É como tratar uma pessoa com hipertensão. Ela terá de tomar remédio para controlar a pressão, não tem outro jeito.”

Fumantes dependentes, que tem dificuldade de cessação, são justamente os que usam o cigarro como calmante ou estimulante. “Para essas pessoas o cigarro funciona como um estabilizador de humor. Ele ameniza o sofrimento como faz uma droga. E tal dependência só o tratamento medicamentoso resolve”, diz Scholz, justificando sua opção por uma abordagem mais técnica e pragmática, no caso, o tratamento medicamentoso.

Lei Antifumo

Desde agosto de 2009 até o momento, foram realizadas mais de 1,8 milhão de inspeções e aplicadas 3,9 mil autuações no Estado de São Paulo, referentes à Lei Antifumo estadual.

Cristina Megid, diretora técnica do Centro de Vigilância Sanitária, afirma que mudar comportamento é uma coisa bastante difícil, mas foi possível no Estado, em pouco tempo, mudar o comportamento das pessoas em relação a fumar em ambientes fechados.

“Havia uma discussão de que haveria um prejuízo econômico, mas foi comprovado que isso não aconteceu. A população aceitou e os empresário, em geral, também entenderam e contribuíram”, afirma Cristina. Com oito anos de existência, a Lei Antifumo conta com 94% de aprovação da população.

O Estado de São Paulo foi pioneiro em implantar uma lei que cria ambientes livres no tabaco. O objetivo é proporcionar ambientes saudáveis e livres da fumaça do tabaco. Segundo estudos, o fumo é a maior causa de morte evitável no mundo. De acordo com a OMS, 6 milhões de pessoas morrem em todo o mundo em decorrência do consumo de tabaco.

Sandra Silva Marques, coordenadora estadual do Programa de Tabagismo do Cratod, comenta os riscos. “O tabaco é a porta de entrada para outras drogas”.

“O cigarro de sabor, com mentol, chocolates e outros aditivos, também deve ser evitado, pois ele induz os jovens ao consumo”, explica o psiquiatra Montezuma Pimenta Ferreira, do Hospital das Clínicas da FMUSP.

João da Silva Marques, por exemplo, é administrador de empresas e afirma não fumar constantemente. “O pouco que eu fumo já me incomoda, porque a gente vai perdendo o apetite. É muito importante ter informação a respeito”.

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