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Instituto Butantan usa peixe-paulistinha para descobrir água contaminada em Campina Grande

Um estudo inédito realizado no Instituto Butantan com a ajuda de embriões do zebrafish – popularmente conhecido como peixe-paulistinha ou peixe-zebra – identificou que as águas utilizadas para o abastecimento do município de Campina Grande, na Paraíba, são inapropriadas para uso.

O trabalho foi feito em conjunto com o Instituto de Pesquisa Professor Joaquim Amorim Neto (Ipesq) de Campina Grande, o Instituto Alberto Luiz de Coimbra de Pós-Graduação e Pesquisa de Engenharia (Coppe), vinculado à Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ) e a Universidade Estadual do Norte Fluminense (a Uenf).

É a primeira vez que o Butantan utiliza o peixe-paulistinha em um teste para medir a presença de toxinas da água. O animal é conhecido pelos cientistas como um eficiente modelo para estudos de toxicidade, por ser um animal vertebrado e ter 70% de similaridade genética com o ser humano.  

Para o estudo, foram coletadas 25 amostras de águas recolhidas dos cinco principais reservatórios de água de Campina Grande (Araçagi, Boqueirão, Saulo Maia, Galante e Mazagão). 120 embriões do peixe foram colocados em cada amostra de água. Todos foram monitorados por uma semana, até alcançarem a fase de larva. Foi então atestado que em 70% dos casos, as águas não apresentavam boa qualidade, gerando anomalias e a morte dos peixes.

“Me assustei com os resultados. Algumas amostras causavam letalidade e muitas vezes constatávamos a morte dos peixes após 24h de teste. Outras amostras causaram sérias anomalias como edema cardíaco e malformação da boca, dos olhos e da coluna vertebral”, conta Mônica Lopes Ferreira, responsável pela pesquisa no Butantan. “Se a água não é boa para o peixe, ela também não está boa para o consumo humano”.

Para o responsável pelo trabalho no Rio de Janeiro, o pesquisador Fabiano Thompson, do Coppe, a seca prolongada na região de Campina Grande associada à alta concentração de nutrientes na água são fatores que podem propiciar a floração de microrganismos tóxicos presentes nos reservatórios. “O estudo demonstrou que açudes submetidos a longos períodos de seca estão sujeitos à proliferação de microrganismos tóxicos. A água poluída destes açudes representa seríssima ameaça à saúde humana”, afirma Thompson.

O resultado do estudo foi publicado no jornal científico “Frontiers in Microbiology” e foi apresentado ao Ministério da Saúde e à Assembleia Legislativa da Paraíba.