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Instituto de Psiquiatria da USP atende cerca de 8 mil pessoas por mês

Os transtornos mentais são responsáveis por mais de um terço do número total de incapacidades nas Américas, segundo a Organização Pan-Americana de Saúde (Opas). O Instituto de Psiquiatria (IPq) do Hospital das Clínicas (HC) da Faculdade de Medicina (FM) da USP abre as portas do instituto à sociedade com o objetivo combater o estigma e preconceito associados aos transtornos mentais. É oque procura fazer o IPq Portas Abertas, idealizado pelo professor Wagner Farid Gattaz em 2012.

“As pessoas saem de lá com outra visão da psiquiatria”, declarou, o professor Wagner Farid Gattaz, presidente do IPq e diretor do Laboratório de Neurociências do IPq, ao Jornal da Usp No Ar. Foram mais de 5 mil matrículas para os diferentes cursos oferecidos, o que fez com que as inscrições fossem encerradas.

Os visitantes encontrarão uma estrutura inspirada nas mais avançadas instituições psiquiátricas do mundo. Os ambientes permitem o desenvolvimento de estratégias multiprofissionais e de socialização. Os ambulatórios do instituto recebem cerca de 8 mil pessoas por mês, e é o único hospital psiquiátrico com instalações especiais para crianças. “Mais de 80% dos pacientes do instituto são do SUS”, pontua Gattaz.

Os outros 20% são atendidos por meio de convênios. “É o que chamamos de saúde suplementar”, explica o psiquiatra. As verbas provenientes dos planos de saúde são reinvestidas no tratamento de pacientes. “Fazemos uma assistência global que vai desde a internação hospitalar até a parcial, os hospitais dia. O paciente vai ao hospital, participa de todos os programas e à tarde volta para as suas famílias, facilitando reintegração familiar e social”, descreve.

O Instituto de Psiquiatria, como todo o HC, é uma unidade de atendimento terciário. Ou seja, voltada ao cuidado de casos de alta complexidade. “Antes de chegar ao IPq, o ideal é receber uma atenção primária”, diz Gattaz, que é oferecida nos ambulatórios do Estado de São Paulo. “Tratamos desde psicoses graves, como esquizofrenia, até transtornos alimentares, além de depressões”, detalha.

Essa desinformação para a população é uma verdadeira tragédia. “No mundo, existem aproximadamente 350 milhões de pessoas com depressão e 47% delas não sabem disso”, expõe Gattaz. Em medicina, diagnóstico significa tratamento. “A depressão, segundo dados da Organização Mundial da Saúde (OMS), é a doença mais subdiagnosticada que existe. Isso faz com que o sofrimento se prolongue por décadas sem chegar a um psiquiatra”, analisa.

Por outro lado, o docente aponta os avanços da psiquiatria nas psicoses mais graves. “Hoje, nós temos medicamentos para esquizofrenia, injeções, que têm o efeito de três meses. Há o controle da doença com quatro injeções por ano. Nos próximos dois anos, vai sair um fármaco novo com efeito de seis meses”, informa. Ele indica que a menor frequência de medicação é importante, já que cada experiência representa uma memória do distúrbio mental.

Gattaz pede vontade política para investir na psiquiatria. “Uma em cada cinco pessoas vai precisar de tratamento mental em dado ponto da vida. Enquanto isso, apenas 2% ou 3% do investimento em saúde chega à área”, diz.

No tocante à pesquisa, o instituto é o polo de maior produtividade científica no Brasil em saúde mental. “Nós produzimos trabalhos de pesquisa desde a área de psicologia e neuropsicologia até as áreas de neurociências”, afirma o psiquiatra. Com destaque em todo o mundo acadêmico, as neurociências são a área de maior atividade da unidade, no momento.