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Vacina contra dengue ganha patente nos Estados Unidos

A vacina contra a dengue produzida pelo Instituto Butantan e testada em Rio Preto com o apoio da Faculdade de Medicina de Rio Preto (Famerp) teve seu processo de produção patenteado nos Estados Unidos. A doses estão na última fase dos testes em humanos antes que o imunizante possa ser disponibilizado à população. Em Rio Preto, os testes são feitos sob supervisão de Maurício Lacerda Nogueira, chefe do laboratório de virologia da Famerp.

A patente foi conferida pelo Escritório Americano de Patentes e Marcas (USPTO, na sigla em inglês). Além de garantir visibilidade internacional ao projeto, a conquista pode significar uma inversão da lógica tradicional de importar tecnologia de países desenvolvidos, segundo comunicado distribuído pela assessoria de imprensa do Butantan. Desde o início, o projeto para a vacina contra a dengue teve investimento total de R$ 224 milhões, proveniente da Fundação de Apoio à Pesquisa do Estado de São Paulo (FAPESP), do Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES), da Fundação Butantan e do Ministério da Saúde.

A terceira fase do estudo clínico começou em 2016 e está sendo realizada em 14 centros de pesquisa clínica – entre eles a Faculdade de Medicina de Rio Preto -, distribuídos em cinco regiões do País e envolverá até o final 17 mil voluntários. O objetivo nesta etapa é comprovar a eficácia do imunizante em proteger contra os quatro sorotipos do vírus da dengue. Ainda não há data definida para a conclusão dos testes.

Dados preliminares indicam que a vacina do Butantan é segura para pessoas de 2 a 59 anos, inclusive as que nunca tiveram a doença anteriormente, induzindo o organismo a produzir anticorpos de maneira equilibrada contra os quatro sorotipos. Terminada esta etapa, poderá ser feito o pedido de registro à Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa). “A patente obtida nos Estados Unidos demonstra o nível de excelência do Instituto Butantan, no panorama internacional, comparável aos melhores centros do mundo, graças à competência obtida no desenvolvimento desta vacina. É mais um passo importante no processo de internacionalização do Instituto”, disse Dimas Tadeu Covas, diretor do Instituto Butantan.

“Vamos continuar buscando soluções inovadoras para saúde pública e para o SUS. (Além da vacina,) não podemos nos esquecer do nosso principal instrumento, que é combater o mosquito. Felizmente, as taxas de proliferação caíram bastante e tendem a cair ainda mais com o inverno”, comenta o secretário de Estado da Saúde, Marco Antonio Zago.

Histórico

Em 2008, o Instituto Butantan firmou parceria de colaboração com o NIH, passando a desenvolver, no Brasil, uma vacina similar a uma das estudadas pelo instituto americano, composta pelos quatro tipos de vírus da dengue.

Um dos grandes avanços do Butantan no desenvolvimento da vacina foi a formulação liofilizada (em pó), que garante a estabilidade necessária para manter os vírus vivos em temperaturas não tão frias, permitindo seu armazenamento em sistemas de refrigeração comum, como geladeiras, além de aumentar o período de validade da vacina (um ano).

Nas etapas anteriores, a vacina foi testada em 900 pessoas: 600 na primeira fase de testes clínicos, realizada nos Estados Unidos pelo NIH, e 300 na segunda etapa, realizada na cidade de São Paulo em parceria com a Faculdade de Medicina da USP (através do Hospital das Clínicas e do Instituto da Criança) e com o Instituto Adolfo Lutz.

Ter a vacina desenvolvida e produzida por um produtor público nacional é uma vantagem competitiva para o Brasil, pois garante a disponibilidade do produto, permitindo a autossuficiência produtiva, além de garantir preços mais acessíveis.